
A exclusão das mães nos espaços públicos: o buraco é bem mais em baixo - por Ana Paula Moura
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A exclusão das mães nos espaços públicos: o buraco é bem mais em baixo - por Ana Paula Moura
Recentemente uma mulher teve sua entrada em um barzinho negada pois estava com seu filho, este foi só mais um caso que repercutiu nas redes sociais mas a exclusão das mães nos espaços coletivos não é nenhuma novidade.
Que mãe nunca deixou de sair pra se divertir pois não tinha com quem deixar a criança, ou até tinha com quem deixar mas a culpa impedia de se separar do filho? Que mãe nunca passou por uma entrevista de emprego e recebeu a famosa pergunta “mas seus filhos vão ficar com quem ?” e depois um sonoro NÃO para aquela vaga?.
Essa exclusão não é coincidência, é um projeto de uma sociedade machista que não é pensada para que as mulheres ocupem os espaços coletivos e isso nos faz refletir sobre como esses espaços são criados, por quem e para quem são criados.
Excluir as mães dos espaços vai além de ser barrada na porta por um segurança, excluir é não disponibilizar vagas suficientes em creches públicas para que as mães possam trabalhar, excluir é não pensar em banheiros femininos e masculinos com fraldário em parques e locais públicos para que ela possa levar seu filho para se divertir, excluir é não contratar mulheres com filhos por considerar que a maternidade possa atrapalhar a produtividade e deixa-las sem renda e dependendo financeiramente de outras pessoas podendo inclusive entrar ou continuar em um ciclo de violência por não ter condições de romper com o ciclo , excluir é fazer reuniões de conselhos municipais ou outros espaços públicos de tomada de decisão em horários e locais de difícil acesso e fazer com que estes espaços sejam ocupados majoritariamente por pessoas que não tem a vivencia de mulheres, mães, usuárias dos serviços públicos e que portanto não conseguem definir quais sãs as necessidades e prioridades. Quando pensamos por exemplo no plenário do senado que teve seu primeiro banheiro feminino criado somente em 2016 (55 anos após sua inauguração) vemos que este não é um espaço pensado por mulheres e para mulheres, muito menos se estas forem mães. Em situações de calamidade como foi a pandemia da Covid-19 as mulheres são as primeiras a perderem seus empregos e as últimas a recuperarem, sem contar o histórico de terem seus salários menores em relação a homens no mesmo cargo. No brasil 65% das crianças de 0 a 3 anos estão fora das creches.
Existe um provérbio africano que diz que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.” e é preciso que essa aldeia seja feita de homens, mulheres, adolescentes, outras crianças. A criança precisa socializar com outras pessoas, faz parte do seu processo de aprendizagem e para isso é necessário que as mães dessas crianças sejam acolhidas e que tenham seus direitos respeitados, direito a moradia digna, alimentação, trabalho, saúde, educação e lazer. Somente respeitando, acolhendo e ouvindo as mães é que iremos conseguir romper com esse ciclo de exclusão e pensar em espaços que caibam a todos, todas e todes, de todas as idades, cores, etnias, religiões etc.
Ana Paula Moreira é mãe , feminista, formada em serviço social, militante e coordenadora estadual do coletivo Juntas!
@anapaulajuntas
email:[email protected]
