
Projeto Amamento! : Ju e Penélope
Compartilhe
O projeto "Amamaneto!" busca trazer visibilidade a valorização a amamentação, através de registros e relatos das mães, contando suas experiencias com o amamentar.
_____________________________________________________________________________________________________________________
Relato da Ju e Penélope.
Assim que a Penelope nasceu, 5:33 da manhã, nós já tivemos nosso momento roubado por protocolo hospitalar, ela nasceu super bem, sem nenhuma complicação, eu pedi para ficar com ela, mas fui ignorada e nos separaram, não tivemos a nossa “hora dourada”. Quando eu fui para o quarto, isso mais ou menos umas seis horas após ela nascer, eu já grudei ela mim, eu ali conhecendo ela e ela me conhecendo, aquele pele a pele, eu buscando um estímulo para a amamentação, aproximei ela do seio pra ver como ela pegaria e de repente ela golfa, soltou bastante fórmula que as enfermeiras haviam dado, ali eu desabei porque eu já tinha sido privada de ficar com a minha filha após o parto, eu queria aquele primeiro vínculo com ela aqui fora, eu sabia da importância do pele a pele, da importância do leite materno naquele momento e não respeitaram isso. Logo em seguida veio uma enfermeira informar o óbvio que já tínhamos presenciado, nas palavras dela foi dada a fórmula porque era protocolo hospitalar por demorar a descer o leite devido a cesárea (que também não foi escolha minha). Porém, na parte da tarde eu já estava com os seios cheios, duros e gotejando leite, talvez tenha sido pelo trabalho de parto que ocorreu de forma natural (eu tinha optado pelo parto domiciliar), as enfermeiras viram e ficaram surpreendidas, mas não deixaram de desestimular, frases que eu ouvi “ela não vai pegar porque já mamou fórmula, agora é só na mamadeira mesmo”, “seu bico é plano, não vai conseguir”, “Não trouxe bico de silicone? Sem o bico o bebê não aprende a mamar e vai passar fome”, “não trouxe chupeta? Vai ficar chupetando o peito”. O único incentivo que tive não foi de nenhum profissional do hospital, foi do pai da Penelope que foi buscar um copinho descartável para eu ordenhar o leite e oferecer para ela até a gente se acertar na amamentação, eu tinha vontade de amamentar, eu tinha leite, mas nunca tinha vivenciado isso, então eu estava com uma certa dificuldade.
Já em casa, optamos por ficar nós três, eu, a Penelope e o Samuel, pai da Pepê, não tivemos rede de apoio e sim rede de agouro rsrs, as frases do hospital ecoavam de novo em casa “ela tá chorando de fome, dá a mamadeira logo”, “seu leite é fraco”, “leite de peito não sustenta”, “tá fazendo seu peito de chupeta”, “você precisa se cuidar, seu peito vai cair se ficar oferecendo toda hora”, por mais que fosse preocupação, (nós também estávamos preocupados), nossas vontades e decisões não estavam sendo respeitadas de novo e isso estava desestabilizando a gente, o puerpério já é uma fase bem punk e nós não queríamos colocar mais carga desnecessária nesse período, então ficamos somente nós três, eu ali praticamente exclusiva com a Pepe e o Samuel cuidando de nós duas, da casa e de todo o resto e ainda sim eu tinha muita dificuldade em amamenta.
Com três dias de nascida fomos a primeira consulta com um pediatra, pesando a Pepe ele informou que ela havia perdido peso mais do que o esperado que um recém nascido perde e que até deveria ter ganhado mais peso, eu expliquei para ele que estava com dificuldades para amamentar e ele olhando para mim respondeu que dava para ver que eu não tinha leite, eu respondi que tinha sim e que eu gostaria de amamentar, ele apenas receitou dois fabricantes de fórmula para gente escolher qual ofertar, recomendou um tipo de mamadeira e pediu para retornarmos depois de uma semana para pesar ela novamente.
Conversando sobre essa dificuldade com a equipe que acompanhou meu trabalho de parto em casa, Mari doula, Mari e Gi parteiras, elas me indicaram conversar com a Thaty consultora de amamentação, meu encontro com a Thaty foi através da Mari doula, a Pepe estava com 6 dias de nascida, eu estava com os seios machucados, doloridos e a Pepe não ganhava peso como esperado, então fomos encontrar a Thaty e ela foi extremamente importante nesse processo, ela é uma profissional muito capacitada e foi muito solidária conosco, ela considerou todos os aspectos emocionais daquele momento, realmente me apoiou e nos deu todas o suporte que precisávamos para colocar em prática uma amamentação efetiva, falou da nossa fisiologia, pega correta, técnicas e posições para amamentação entre outras tantas informações. Através da consultoria com a Thaty também conseguimos uma consulta com um pediatra mais atualizado e a favor da amamentação e que foi fundamental para a continuidade desse processo, pois eu estava muito desanimada já porque havia saído com indicação de fórmula do hospital e a primeira consulta com o outro pediatra também seguia essa orientação da fórmula.
Após o encontro com a Thaty e duas idas ao consultório do pediatra Dr. Juarez aconteceu a prática saudável da amamentação. Seguimos com as consultas periódicas ao Dr. Juarez e após 1 mês e 42 dias conseguimos o aleitamento materno exclusivo e em livre demanda, foi feita a retirada gradual da fórmula, sempre com o acompanhamento do pediatra.
Os meses se passaram, a Pepe super saudável e chegava o fim da minha licença maternidade, eu retornaria após seis meses, mas devido a pandemia fiquei mais 2 meses em casa trabalhando remotamente. Com seis meses havíamos começado a introdução alimentar, mas seu principal alimento ainda era o leite materno e com o retorno ao trabalho optei por ordenhar meu leite para que a cuidadora ofertasse, com essa demanda da ordenha minha produção de leite aumentou muito e fui procurar o Posto de Coleta aqui da minha cidade para doar leite, apesar de ser uma fase que me rendeu muitas incertezas, eu tinha medo da Penélope desmamar porque eu fico quase 12 horas fora de casa, ir ao Posto de Coleta me abriu um universo de conhecimento também, conhecer a realidade de uma UTI Neonatal, mães que não podem amamentar e o trabalho árduo de profissionais que remam contra a maré de desinformação foi muito positivo pra mim, me fez olhar para tudo que eu havia passado com muita gratidão.
Hoje a Penelope tem 1 ano e 9 meses e seguimos na amamentação, até hoje é bem difícil ela ficar doente o que eu acredito ser um dos inúmeros benefícios do leite materno, outra situação que beneficiou ela na amamentação foi a vacina contra o Covid-19, eu fui vacinada e através do leite materno pude repassar os anticorpos produzidos, além disso minha filha tem um ótimo crescimento e desenvolvimento.
O que me fez persistir na amamentação foi que, dentro de mim, eu me recusava a começar uma relação humana com um ser que eu gerei em mim de forma “automatizada”, aquilo de que a mamadeira é melhor, que a chupeta é melhor, que o berço é melhor, eu não tenho nada contra, só não queria isso para mim, para nós. Eu queria o calor do contato, eu queria esse vínculo natural da nutrição alimentar e também afetiva, eu queria a entrega dessa interação entre nós, e hoje estamos aqui com a nossa troca de olhares, nosso contato, nosso amor líquido nutrindo ela e a mim também, colhemos bons frutos até hoje.
Poder realizar esse ensaio e eternizar esses momentos através do Prosa e Fotografia é muito significativo e valoroso para nós.
Muito obrigada Ju pelo seu profissionalismo e carinho, por retratar tão bem esse sentimento todo através da fotografia!!!









